MEMÓRIA #6



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Steve Ditko, como bem falou Jordan Raphael nesse artigo do Los Angeles Times [de 29/4/2002, que tem por pretexto o lançamento do primeiro filme do Homem-Aranha de Sam Raimi], é um J. D. Salinger dos quadrinhos: recluso, não dá entrevistas ou faz aparições públicas, há trinta anos publicando quadrinhos de forma quase artesanal para evitar qualquer interferência editorial. Isso é muito mais do que timidez: Ditko não faz concessões.

Os conhecidos de Ditko descrevem ele como educado, amistoso e de fala tranqüila. Mas Ditko também tem um lado negro, que aparece de forma mais clara quando seus princípios são afrontados. Em uma ocasião, ele parou de fazer uma série e atacou de forma furiosa o seu editor por conta de um pequeno erro de cores na capa da primeira edição.

A escritora Cat Yronwode, que publicou quadrinhos, sofreu a fúria de Ditko quando tentou escrever um livro sobre ele na metade dos anos 80. Quando Dikto descobriu que Yronwode entrevistou o seu irmão, ele explodiu. "Ele achava que eu invadi a sua privacidade".

Pouco depois, o manuscrito de Yronwode para "The Art of Steve Ditko" e todas as suas notas foram destruídos em uma inundação em sua casa. "Isso foi o final", ela diz. "Senti que, por qualquer razão, talvez fosse Deus falando, não era para eu fazer isso".

Eu não estou afirmando que esse homem está no controle das FORÇAS DA NATUREZA,
mas apenas que é melhor não contrariá-lo sem antes CONSTRUIR UMA ARCA.
Ditko abandou a série do Homem-Aranha, The Amazing Spiderman, de forma súbita, em sua edição 38 -- até hoje não se conhecem exatamente os motivos. Especula-se que seja porque Stan Lee não lhe deu créditos pela criação do personagem -- só que não tão simples:

Mas quando ao porque dele ter saído da série, ele [Ditko] apenas escreveu "Eu sei porque sai da Marvel, mas ninguém mais nesse universo soube ou sabe. Pode ser de algum interesse dar-se conta que Stan Lee decidiu não saber, não ouvir porque, e eu sai". Lee é consciente do ressentimento de Ditko. Alguns anos atrás, Lee tentou endireitar as coisas enviando uma carta a Ditko, na qual ele dizia "Eu sempre considerei Steve Ditko como o co-criador do Homem-Aranha". A resposta de Ditko apareceu em maio de 2001 em uma edição de Comics: "'Considerar' significa ponderar, olhar detidamente, examinar, etc. e não admitir, ou afirmar, que Steve Ditko é o co-criador do Homem-Aranha".

Mas ele merece ser chamado de de excêntrico, não de pirado -- o homem é um gênio dos quadrinhos. Nessa resenha de Peter Sanderson do livro Strange and Stranger: The World of Steve Ditko, de Blake Bell [publicada na Publishers Weekly em 12/4/2008], você pode encontrar alguns por quês:

Bell confirma a versão pela qual o motivo que levou Ditko a assumir o lugar de Kirby como desenhista do Homem-Aranha foi que a versão de Kirby era muito próxima de The Fly, revista de Kirby e Simon. Os leitores podem se impressionar pelas revelações feitas por Bell, sobre como Stan Lee supostamente resistiu ao que hoje em dia são consideramos elementos essenciais da série do Homem-Aranha, criados pela insistência de Ditko. Por exemplo, de acordo com Bell, Lee não queria que Ditko colocasse o Homem-Aranha em suas características posições que lembravam aranhas, com medo de que o Comics Code pudesse de alguma forma se opor a tal comportamento aberrante. Originalmente, Bell escreve, Lee queria que o Duende Verde fosse um demônio sobrenatural, e foi Ditko que transformou ele em um humano misterioso.

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